Rebel Moon teve seu lançamento nesta sexta-feira, 19 de Abril, em meio a polêmica porcentagem de 13% na avaliação do Rotten Tomatoes

Rotten Tomatoes é um website americano, agregador de críticas de cinema e televisão. A empresa foi fundada em agosto de 1998 por Senh Duong e desde janeiro de 2010 tem sido propriedade da Flixster, que, por sua vez, foi adquirida em 2011 pela Warner Bros.

Falar de qualquer filme de Zack Snyder é sempre polêmico, indiscutivelmente é um dos diretores com mais hate de Hollywood (algo que sempre vou questionar, pois ele definitivamente não faz jus ao ódio que recebe), mas mesmo com toda essa energia que o ronda, eis-me aqui mexendo nesse vespeiro. 


Nos últimos meses venho assistindo a obra de Zack Snyder, dentre os filmes que já assisti estão Madrugada dos Mortos, 300, A Lenda dos Guardiões, Sucker Punch, O Homem de Aço, Batman vs Superman, Liga da Justiça (os dois) e finalmente, a dobradinha (que eu espero mesmo que se confirme mais sequências, quem sabe uma franquia) Rebel Moon. Não posso me considerar uma fã do diretor, mas, com certeza, sou admiradora, e acho que tenho uma pequena bagagem para poder comentar, não é mesmo? Se não, me desculpem, vou comentar mesmo assim, superem! 

Sinopse: Os rebeldes se preparam para lutar contra as forças implacáveis do Mundo-Mãe, forjando laços entre si enquanto heróis emergem e lendas nascem. 


Escrever uma crítica sem dar spoiler é sempre bastante desafiador para mim, mas tentarei entregar o melhor, e sim, de alguma forma tentar converter a visão de vocês sobre esta porcentagem descabida do filme na Rotten Tomatoes. Dito isto, vamos começar com uma frase que certamente é unanimidade para quem já assistiu. 

Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes é muito superior ao filme Parte 1: A Menina do Fogo 

A partir desta frase, já posso recomendar a você dar uma chance ao segundo filme, e caso ainda não tenha assistido ao primeiro, já posso dizer que tem motivos sim, para assistir os dois filmes em sequência, acredito que seja a melhor maneira de se conectar ao universo Rebel Moon, e que universo, meus amigos! (dica: Netflix também liberou um documentário com os bastidores do filme, é genial) 


Rebel Moon é ficção científica, gênero este, que confesso não ser o meu favorito, entretanto, desde sua Parte 1: A Menina do Fogo, prendeu minha atenção, e já começamos com um ponto positivo, pois a sequência faz isto de maneira muito mais coesa. Sei que teremos as duas partes em versão diretor com 1 hora a mais cada uma, entretanto, no filme "A Marcadora de Cicatrizes" isto não parece ser tão necessário quanto na "A Menina do Fogo".  

O filme inicia com uma narração retomando os fatos ocorridos na Parte 1: A Menina do Fogo, onde é explicado que nos extremos do domínio do Mundo-Mãe, a pequena lua de Veldt, aldeia de humildes agricultores, que levavam uma vida simples e rural, recebe a desagradável visita do Almirante Noble e seus soldados, exigindo mais do que o povo de Veldt poderia dar, fazendo com que Kora e Gunnar saiam da aldeia para reunir guerreiros para libertar o povo do domínio do Mundo-Mãe

Em seguida, temos o renascimento do vilão Almirante Noble (Ed Skrein), que em comparação com primeiro o filme achei um pouco mais apagado, mas acredito que tenha sido proposital, nos diálogos fica claro que ele ainda não estava completamente recuperado da luta final com Kora. A atuação de Ed Skrein é inquestionável, sempre que ele está em tela sabemos que algo desconfortável vai acontecer, não só com diálogos, suas expressões sustentam a trama e o incômodo que ele nos oferece. 

Em sequência acompanhamos a chegada dos guerreiros na aldeia de Veldt, o descobrimento que a nave está voltando em poucos dias, e General Titus incitando o povo a lutar pela sua liberdade. A tensão nesta cena é tão real que é como se pudéssemos tocá-la, e o brilhantismo dela só é possível com um elenco principal e de apoio extremamente afiado. Com certeza, para mim, este é um dos pontos altos do filme, o elenco de apoio tem um grande espaço na narrativa, e até mesmo os figurantes nos emocionam em algumas cenas, isto dá a Rebel Moon um passo a frente em muitos filmes que são carregados apenas pelo seu elenco principal. 

E não podemos deixar de analisar a trama com seus detalhes, estamos falando de guerreiros que se juntam a pessoas comuns, homens, mulheres, crianças e idosos, agricultores que estão lutando pelo seu direito de viver dignamente. É uma narrativa que pode ser considerada clichê, mas Zack Snyder fez isto brilhantemente, nos proporcionando cenas com muita profundidade e humanidade. 

O fato de praticamente não ter sido usado CGI nas dependências da aldeia traz uma realidade doída a situação, com uma trilha sonora maravilhosa, é impossível não sentir uma melancolia ao imaginar que tudo aquilo pode ser destruído assim que a nave chegar.  


As cenas da colheita do trigo e da preparação do povo para a batalha são um verdadeiro presente aos amantes da arte. A assinatura de Zack Snyder nelas são claras, a cada take vemos uma fotografia que nos enche de tanta sensibilidade, o olhar do diretor aos detalhes fica evidente, e nos chama atenção a admirar cenas que poderiam em qualquer outro momento passar despercebidas. Me impressiona o fato de muitos não gostarem desse simbolismo que ele usa, para mim é pura arte. 


Mas nem tudo são elogios, obviamente. A cena onde Kora conta como foi a morte do Rei, Rainha e da Princesa Issa, é bem, com falta de palavra melhor, constrangedora. A caracterização dos personagens é ruim, o contexto é duvidoso, e a atuação deixa a desejar. Digamos que é a cena esquecível, aquele momento que a gente não entende como um filme do potencial de Rebel Moon deixou isso passar. Ressalto que na parte 1 a caracterização de Belasarius (Fra Fee) já tinha chamado atenção, mas na parte 2 com as atuações ruins não deu para passar aquele pano. 


Voltando a falar de coisas boas, dou destaque para uma das cenas mais bonitas de Rebel Moon, e não estou falando de estética. Quando Sam (Charlotte Maggi), uma das moradoras da aldeia (que ainda tenho minhas dúvidas se não é a Princesa Issa) presenteia os guerreiros em forma de gratidão. A cena para quem consegue emergir profundamente na narrativa do filme, emociona bastante. E vou aproveitar esta cena para poder falar dos personagens. 


"General Titus parecia uma montanha forte e inabalável."

Dijimon Hounsou, é monstruoso, sua presença em cena justifica o general de seu nome, uma atuação maravilhosa que sustenta a fortaleza que é seu personagem desde o começo. Um verdadeiro líder. 


"Tarak, seu espírito é indomável, mas sua nobreza inegável."

Staz Nair, é o alívio cômico do filme, seu personagem traz uma leveza que difere de seu porte físico, e isto já é um ponto positivo a se analisar. Teve seu grau de importância diminuído na trama, mas em todo momento que aparecia, trazia seu acalento a cena  o tornando um gigante amoroso. Gosto do seu enredo, entretanto, a sua história com o Mundo-Mãe contada posteriormente, foi a que mais deixou a desejar. 


"Jovem Millius, que brilha como o sol no nosso rosto nos aquecendo e acalentando, de forma firme e verdadeira"

E. Duffy é o personagem que eu queria ver mais, no primeiro filme aparece quase sempre em dupla com o Darrian Bloodaxe, e percebi a mesma sintonia começar a surgir com Tarak, acredito que possa  se iniciar parceria bem forte entre os dois. 


"Nêmesis, brava como uma tempestade e seus relâmpagos, mas com sua chuva revigorante. Essa é a fonte da vida. A tempestade é a mãe de todas nós."

Doona Bae é simplesmente fantástica, para mim, um dos melhores e maiores personagens do filme. Uma das histórias mais profundas e doloridas. E ela passa isso para quem está assistindo sem precisar dizer uma palavra. Seu olhar é triste, intenso e sua performance simplesmente hipnotiza. 


"Gunnar, você é o nosso coração. Você nos dá esperança."

Michiel Huisman, é o personagem mais sem força do filme desde a primeira parte, mesmo sendo morador da aldeia, não tem o mesmo ímpeto dos outros. E você vai me dizer: "Ah! mas ele não é guerreiro como os outros". Sei que não, mas Den (Stuart Martin) um dos agricultores do elenco de apoio, também não é, e simplesmente roubou a cena em luta contra o vilão Almirante Noble, mostrando ímpeto, coragem e força, me fazendo questionar ainda mais o papel do Gunnar no filme. 


"Kora, você é o nosso lobo guardião com os dentes à mostra. Você se pôs entre nós e a aniquilação. É a força de todos nós juntos."

Sofia Boutella, é definitivamente a heroína que sempre pedimos nos anos 90 nos filmes de ação, ela é simplesmente gigante em cena, tem força sem perder a delicadeza, é aniquiladora quando precisa, e faz jus a seu codinome: a marcadora de cicatrizes. Me impressiona o fato de ser a primeira protagonista dela. Realmente, para nós mulheres só nos falta oportunidades. (Sim, militei!) 

E aqui chegamos finalmente a parte final do filme, onde a trilha sonora, as cenas, os personagens e a emoção se fundem. Vemos homens, crianças, mulheres e idosos se preparando para uma missão suicida, e pela primeira vez sentimos que o General Titus sabe, e se preocupa com isso.

Zack Snyder nos brinda com uma batalha real, onde vemos agricultores lutando contra um enorme exército, um elenco de apoio ganhando destaque e tomando decisões importantes para o filme, o elenco principal extremamente coeso e conectado, e uma história chegando ao seu ápice. Os efeitos especiais são luxuosos, não são usados exageradamente, e ditam o poder de análise e direção de Snyder. Já falei que a trilha sonora nos faz embarcar em cada cena? Tenho certeza que sim! As coreografias das lutas são impecáveis, e percebemos isso ainda mais com a sua assinatura: a câmera lenta, que deixa tudo simplesmente mais fantástico. Não é a toa que o chamam de visionário, não é mesmo? Rebel Moon não é um simples filme de ficção científica, é a porta de abertura para uma possível saga que no futuro será muito melhor compreendida pelos críticos que ainda não estão preparados para assistirem um filme desse tipo, de forma mais aprofundada. Reclamar que o filme não tem humor o suficiente, beira o absurdo e o amadorismo em busca de repetição. Vocês não cansam do mais do mesmo, não? 

"A morte fica para os inimigos" 

Uma coisa que ficou clara desde a primeira parte do filme, é que Zack Snyder não tem pena de matar personagens importantes, e na parte dois isso não seria diferente, não vou estragar sua experiência e contar quem são, mas infelizmente na batalha nem todos vão sobreviver, e isto é mais um ponto positivo do filme que sai do óbvio. 

A batalha final é cheia de simbolismos, mostra um povo aguerrido, que não se entrega, uma trilha que traz profundidade, dor e lamento. Vemos pessoas comuns morrendo, e um filme que apesar de muita energia do elenco, é triste, e nos leva a refletir sobre nossas escolhas, e propósitos. Tente não se emocionar na fase final e falhe miseravelmente. Quando Snyder une a emoção da batalha, com suas câmeras lentas, sua trilha sonora e o General Tulius e o Tarak lutando em cena, tudo fica simplesmente MAJESTOSO. 

A batalha entre Kora e o Almirante Noble é de tirar o fôlego com uma nave inclinada, cenários se destruindo, e uma heroína que grita, chora, bate, lamenta. E isto nos aproxima muito da verdade de Kora, e nos faz entender que o que começou a partir de uma promessa de pagamento, tomou um rumo muito maior, pois todos estão ali por um propósito genuíno. 

E vocês devem estar se perguntando: E o robô Jimmy? 


Definitivamente este personagem é a cereja do bolo, e nos dá a certeza que se tivermos novos filmes, o espaço de narrativa dele é garantido, com cenas épicas como as que vimos na parte 2. Um adendo para Anthony Hopkins que dá voz ao robô, ele simplesmente nos guia a uma narração intensa e acolhedora. É de aplaudir de pé. 

Zack sempre falou da sua paixão por Star Wars, e isto fica nítido em vários momentos. Gosto que ele trabalha muitas referências de forma sutis em seus filmes, em Rebel Moon, vi duas cenas que lembraram muito sequências de Titanic, coincidência ou não, achei genial. 

Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes entrega uma ótima narrativa, um filme emocionante e humano, que trabalha não só a batalha pela sobrevivência, mas a força de um propósito e a luta por não ser definido pelos erros do passado. Zack Snyder nos brinda com um filme intenso, fluído, e que abre portas para uma franquia incrível se assim o fizer. Vale a pena assistir e acompanhar a jornada de Kora e os outros guerreiros. Não compre a ideia do efeito manada, pois deixará de curtir um ótimo filme neste final de semana. E mais um detalhe que pode te animar em assistir: 

Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes já está em 1º lugar nos mais assistidos da Netflix no Brasil 


Titulo: Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes
Diretor: Zack Snyder 
Duração: 2h:03m
Onde assistir: Netflix 

Nota: ♥♥♥♥